quinta-feira, 8 de outubro de 2009

liberdade.

O telefone toca outra vez. Toca sem parar.

Um corpo levanta-se, de rompão, e quando o telefone pára de tocar já está ela a atingir a maçaneta da porta das traseiras.

A partir deste momento, há a quietude de uma cena dramática: consegue imaginar o telefone a continuar a tocar na sala deserta, a respiração do silêncio entre cada toque, a jarra de flores que se encontra ao lado dele, com as pétalas sopradas com força e espalhadas sobre a mesa, a cadeira vazia e empurrada para trás, a relva e as árvores mais ao longe, para lá da janela aberta com cortinados tocados pelo vento.

Ela corre, com toda a força, para o sítio mais longe que possa imaginar. Ela correrá até que a exaustão dos seus pulmões a impeçam.

Rompe a atmosfera que paira sobre as altas árvores como uma flecha. E continua a correr. A correr sem parar. Como uma criança que foge, brincando às escondidas.

Ela corre. Até ir parar num lugar onde nem ela própria se possa encontrar. Até se perder. De si, e do mundo.

Cai de joelhos na exaustão, presa ao seu corpo com finitas capacidades. O piso é húmido, e verde, e o sítio é completamente incógnito, sem identidade. Ela olha em volta, e vê a paz. Sem um telefone constantemente a tocar-lhe ao ouvido. Sem um tecto a esborracha-la contra o chão. Mudou de rua, e neste momento já não está no beco sem saída. “Sou livre”, fechou os olhos com força e pensou na sua nova condição, ainda que não esteja bem certa do que significa. Mas tudo o que ela estava era completamente sozinha, em lugar nenhum, desterrada numa terra desconhecida, como um explorador solitário sem bússola nem mapa. “Será isto a liberdade?”

3 comentários:

Anónimo disse...

A felicidade só se encontra em liberdade, mas não acredito na felicidade quando não é partilhada.


Under your spell again
I can't say no to you
Crave my heart and it's bleeding in your hand
I can't say no to you

Dalva Nascimento disse...

Creio que muitos já se viram nessa situação de correr sem saber do que
ao encontro de uma liberdade que assusta.

Uma noite de paz!

Bjs.

Robin K disse...

Não sei se a liberdade é isso, mas sei que muitas são as vezes que davamos tudo para estar em "lugar nenhum".

Beijinho