segunda-feira, 24 de novembro de 2008

noite em branco

Amanhã, escuta a minha voz.

Esta noite, corações negros voltaram tristemente à carpete do meu quarto.
Esta noite baixei os braços. Desisti de te acenar, de acenar ao teu ser, para dizer que estava ali em estado de força maior.
Esta noite trouxe uma atmosfera enublada pelas nuvens de certeza que estavam bem lá no alto.
Esta noite, os pássaros do sul migraram para norte.
Esta noite, todas as luzes de estrelas fizeram a questão de se apagar. E tu? Também fazes essa questão?
Esta noite, a certeza que tinha sobre ti entristeceu, enfraqueceu, enlouqueceu, escureceu.
Esta noite, eu segurei-me e tu caíste.


Este amanhecer, pelo menos, escuta a minha voz.
Este amanhecer deixa, pelo menos, que ela dobre o último degrau da nossa escada.


Hoje, deixa que a força da minha voz sacuda a velha poeira deste lugar.
Hoje, deixa que seja o nosso andamento a moldar o nosso caminho.
Hoje, por favor, não penses no amanhã. Dá-me a mão, vamos fugir do mundo.


imagem: "falando com uma tela"

sábado, 22 de novembro de 2008

vai-vem de memórias.


Quando o pior acontecia, o meu sorriso descia às tristezas com um soluço de baloiço, um tilintante de memórias arrancadas às cordas do passado. Eu sentava-me nele e subia, balouçando até à luz das recordações.

Quando as esperanças fugiram de braço dado com as forças, o baloiço parou, imóvel, preso, pesado; a cabeça baixou-se, a felicidade evaporou-se, a luz das memórias apagou-se; o refúgio sofreu um abalo fortíssimo e desmoronou. Tal imagem permaneceu, imutável, até ao dia em que uma suave brisa resolveu corroer as raízes que tudo prendiam.

Hoje, balouço novamente no teu sorriso.
Cheia de coração, é mais fácil transformar-me no próprio baloiço e na luz dançante que embala o seu andamento.
Num murmúrio de vento, peço-te que não me empurres tão depressa deste lugar iluminado que é O Teu, peço-te que me deixes matar saudades deste mundo que voltou tão depressa. Matar saudades de ti e matar saudades do que foi. Para que mais tarde possa, como uma criança, matar a parte triste e recomeçar uma nova história, criada no baloiço quotidiano do teu sorriso.


Desperta em mim a gargalhada debruçada no abismo da felicidade, que eu despertarei em ti o Nosso Novo Mundo.
"O baloiço onde baloiçava,
Numa cadência invisível,
Era o meu gesto repetido e feliz."
imagem: "Baloiçando" Pedro Carvalho

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

caminho vazio.


Uma estrada vazia de caminho a percorrer.



Perco-me entre sentimentos e pensamentos que teimam em confundir o meu ser até à exaustão.
Sentimentos de mãos atadas por teias-de-aranha.
E nada sobrevive do oxigénio já respirado.

Desejo-te na querença egoista da alma em atingir o ansiado equilibrio.
Vagueio no vai-vem de incerteza constante dos dias.
Certeza do que não está certo, incerteza.

Vagueio,
inevitáveis pontos de interrogação aparecem...
Eu é que estou errada.
Eu sei que eu é que estou errada.

"Dois caminhos divergiam d'um bosque,
Eu escolhi o menos percorrido.
Isso fez toda a diferença."
imagem: "Caminhos"