O frio torna-se vivo agora, nas noites. Tal como a solidão que se faz sentir no ar. A lua já nasceu, linda, da cor do fogo, esse fogo que queima todo este meu mundo a cada dia que passa, a cada suspiro que sinto ter de dar.
Seja em pesadelos, ou em sobressaltos, a sombra mantém-se e insiste em não ter de ir, em não querer ir. Eu, impotente, aceno com a cabeça num sinal que sim, aceito. Aceito que o desconhecido me invada, mexa e remexa em todas as minhas gavetas de sentimentos, em todas as fotos de sonhos meus, aqueles chamados impossiveis, ou até fantasias, e em cada objecto, de tantos olhares brilhantes que se traçaram no meu caminho. Palavras ao vento são lançadas em busca de algo melhor, no normal chamariam-se pombos correio, vão e voltam com a mensagem que algo foi entregue a alguém, que alguém recebeu
o que era suposto, que alguém vai responder e sacudir todo este pó que se acumula, aqui, ou talvez mesmo em mim. As minhas palavras vagueiam ao sabor do vento, e não me parece que alguem as tenha recebido, ou melhor, que alguem se tivesse importado com elas.

No embalo de pensamentos menos bons (ou pensamentos da dura realidade), o sono cambaleia-se perante mim, os meus olhos começam a ficar pesados. Antes de cair no mar da imaginação estupidamente fascinante (quem diria haver tanto dentro de mim) lembro-me de ter pensado se o dia seguinte iria ser igual a tantos outros: as mesmas caras, as mesmas histórias, os mesmos sonhos e os mesmos pesadelos. Consigo fazer parte da mobilia da minha própria vida, consigo ficar parada a ver-me ser arrastada pelo vento das ideias alheias, pela maré baixa e a maré alta da vida de outrém, consigo ser levada pelas diferentes fases da Lua e por problemas que não deveriam afectar da maneira que o fazem. Num lugar que conheço há tanto tempo consigo sentir-me estranha. Os meus sonhos, envoltos em bolas de sabão levadas pelo sabor de uma prateada purpurina, simplesmente desapareceram. A vida fez o favor de os matar. Gostava de me sentar num tronco de uma arvore la do alto do universo, e poder observar, alheia a tudo.
Estou presa neste lugar vazio.