segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ignoro.

imagem por: Decomarte

Caídas na minha mão. Sem cheiro, com as três pétalas superiores e de maior dimensão, e duas inferiores na esquina da sua beleza, juntas com o seu relevo amarelo alaranjado no seu ápice e outrora carnudas, caíram. Caíram na figura desvanecida, doente e envelhecida; com as suas veias em relevo, e sem o brilho que um dia tiveram, cada vez que nelas o sol era reflectido.


A orquídea branca desflorou. As outrora belas flores brancas estão agora enrugadas na minha mão. Aperto-as e pergunto-lhes o porquê, sem obter resposta. Ignoro. Ignoro, no centro da minha maior sabedoria, o porquê destes porquês. Por dizerem que o ignorante tem na posse a vida mais sábia de todas, sinto-me no centro da minha maior sabedoria e, ainda assim, ignorante. As flores, sem que nada lhes tenha dado razão para partir, apenas porque lhes apeteceu, foram embora.


Sentada e com as flores mortas na minha mão, ignoro. Ignoro o porquê de seres tão irracionais serem donos de uma racionalidade tão grande. A decisão sábia de partirem apenas porque sim, ou porque não, ou apenas porque ponto final. Apenas porque sentem que devem. Apenas porque o ar à sua volta se tornou irrespirável. Quantas vezes o ar se tornou irrespirável à minha volta e eu não parti? Ignoro.


Na noite fria que cai, deixo as flores deslizarem nos dedos enrijecidos pelos meus frios músculos. Elas assumem-se em queda livre, parando, imóveis, no chão. E eu ignoro o porquê, sem querer que alma nenhuma mo diga.

Porque há quem diga que o mais feliz é o que ignora o mundo em seu redor, ignoro e sou feliz. Por isso fecho os olhos, viro costas e aceito as coisas como elas são, tal e qual como uma criança que aceita um não. Ignoro. Recolho-me no meu canto e olho para o mundo de uma forma ignorante, sábia e feliz.

E tudo se torna mais simples.